quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Estou aflitaaa!

Nos últimos tempos só tenho postado com o intuito de me "queixar", de "reclamar", de "afogar" as minhas mágoas, as minhas tristezas, os meus sofrimentos.
Lamento, por ti e por mim, mas ainda não é agora que vou mudar isso.
Não tenho culpa se a vida não me tem dado muitas razões para sorrir, não tantas quantas as que me dá para chorar.

Tenho tentado encontrar um rumo para a minha vida, mas está difícil. Não encontro um caminho que possa seguir, e a cada passo as portas fecham-se para mim.



O casamento dos meus pais nunca foi uma maravilha, e temo que esteja cada vez mais perto do fim.
Há pouco tempo, eu e a minha irmã Sara (mais velha que eu 6 anos) deparamo-nos com algo que nos deixou desconfiados, e cada vez mais temos mais certezas de que seja verdade. A possibilidade de a minha mãe andar a trair o meu pai deixa-me sem respiração.
Se realmente for verdade, tenho de admitir que entendo as suas razões.
Ela nunca o amou. O verdadeiro amor dela ficou na terra de onde ela veio, há uns 24 anos atrás. O meu pai foi um "escape", um Porto-de-Abrigo.
Além disto, o casamento tem andado na corda bamba desde que ela entrou em depressão. Nunca a conheci doutra forma, pois cresci vendo-a com esse dito problema.
Por outro lado, o meu pai provoca-me repulsa. Lamento dizê-lo do meu próprio pai, mas fisicamente é o que me provoca. A ideia de qualquer tipo de contacto físico para além de um abraço com ele, faz-me confusão.
Ele não se cuida, não tem cuidado com a sua imagem, embora se ache um "gostosão".
Não é o facto de ele não ser um Brad Pitt, de ele não ser musculado ou algo do género. É o facto de ele realmente não ter cuidado com a imagem, com as mãos, com a pele, entre outros, que são os principais focos de contacto físico com outra pessoa.
Então a nível de relações sexuais, não entendo como é possível suportar o meu pai.

Contudo, sei que a atitude da minha mãe é reprovável, e não poderei ficar do lado dela.
Mas não pretendo fazer desta uma guerra minha. É entre os meus pais, eles que resolvam. Preferia que se divorciassem, a ter de assistir a esta degradação da minha família.

Hoje fiquei a saber que o meu pai avançou com os papéis para ser transferido para a Figueira da Foz, que não sendo assim tão longe daqui, vai levá-lo de nós. Lá ele irá desempenhar as mesmas funções, terá o mesmo emprego, simplesmente ganhará mais por estar longe de casa e por ter funções extra.
Embora esse aumento financeiro possa ajudar de alguma forma, não há dinheiro que pague a ausência do meu pai. Quero-o aqui, connosco, comigo.


Outro assunto que me preocupa é a Universidade.
Sempre quis seguir Arquitectura, e tenho como foco ingressar na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). Durante os meus primeiros 2 anos lá, terminarei a minha transição, segundo consta.
Contudo, a minha irmã diz-me que, por este andar, os meus pais não vão conseguir pagar-me os estudos. Não posso imaginar o que farei da minha vida se não poder continuar os estudos. Não sei mesmo, e o medo atormenta-me.
Fui obrigada a desistir da Dança (embora tenha esperança de voltar um dia), não quero ser obrigada a desistir de Arquitectura.

Preciso de dinheiro. Os meus pais não me dão nada para além de comida e pouco mais (que realmente é o essencial e é bom, tendo em conta que muitas crianças no Mundo nem isso têm).
Só sabem estoirar o dinheiro, por-se em dívidas, dar cabo da nossa situação financeira, e comigo pouco se preocupam, ou nada. Por vezes nem dinheiro tenho para comer na escola.
Quero arranjar um part-time, mas é impossível. Para além de não conseguir encontrar, não sei como vai ser possível conciliar o trabalho com a escola. Não irei ter tempo para investir nos estudos, e tenho medo de baixar as notas. (sugestões sobre este tema são bem-vindas)
Não sei onde vou arranjar o dinheiro para tirar a carta aos 18, para comprar um carro em 2ª mão, para fazer a eletrólise (não querem ver uma mulher com barba, espero), para fazer o transplante capilar (acreditem, as minhas entradas não me deixam passar despercebida), entre outras coisas que necessito.
Vou trabalhar no Verão, segundo pretendo. Vou tentar trabalhar numa empresa aqui da zona, que segundo sei, auxilia os jovens. 500€ por mês, pelo que ouvi dizer.
Se podesse trabalhar durante Junho, Julho e Agosto, eram 1.500€ no próximo Verão.
Se repetisse a proeza depois de terminar o 12º (antes de iniciar as aulas na Universidade), seriam 3.000€ ao todo. Era óptimo.

Para além destes problemas que me estão a por doida, há também o facto de nunca mais começar o tratamento hormonal.
Estou a ficar seriamente perturbada com a evolução masculina do meu corpo.
Os meus ombros já estão largos e grossos, não pude evitá-lo; a minha voz está a engrossar cada vez mais, não vou conseguir evitá-lo também; a barba cresce cada vez com mais força, é torturante; o cabelo cai-me como nunca antes visto, não consigo suportá-lo.
Que é feito do maldito tratamento que nunca mais chega?!
Será que é preciso expor-me a todo este sofrimento para no final, quando o meu corpo já estiver a cair de podre da masculinização a que foi obrigatoriamente submetido, finalmente ser concebida com um tratamento que não vai eliminar de todo certas marcas masculinas?

Estou a ficar seriamente perturbada.
Tudo bem, talvez não tanto... no momento em que escrevo isto, a dor não está tão intensa.
Talvez o facto de ter escrito tudo isto me tenha aliviado um pouco, mas basta o dia de amanhã começar, para tudo voltar outra vez.
A cada minuto da minha vida a vontade de que tudo termine, aumenta.
Quantas e quantas vezes tenho vontade de pegar numa corda, amarrá-la ao pescoço e puuuf, terminar com tudo.
Já estive mais longe, mas talvez não venha a estar mais perto do que isto.
Sei que é triste, mas há momentos em que a aflição é tanta que os meus olhos não conseguem ver mais nada.

Só espero conseguir superar tudo isto de forma saudável, e daqui a uns tempos estar aqui, para falar de coisas mais alegres e interessantes.

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Sou uma Rapariga Transexual, de 17 anos, numa luta pela sua identidade. Sou sensível, afectuosa, desprotegida, mas lutadora. A minha vida é feita de sonhos e esperanças, mas quero acreditar que um dia vou poder viver como qualquer outra pessoa. Quero acreditar que daqui por pouco tempo serei capaz de ME ser, por inteiro!

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