terça-feira, 9 de novembro de 2010

Ou é parva, ou faz-se.

Estou a falar da Jessica.
Depois do que ela me fez, depois de tudo o que aconteceu, acha que as coisas entre nós podem ficar "bem".

Desde aquele dia, a nossa relação nunca mais teve conserto. Ao início tentei desculpabilizá-la, mas a verdade é que ela tem culpa. Ela tem toda a culpa. Ela era a minha melhor amiga, a minha maior confidente, provavelmente a única pessoa por quem eu era capaz de por as mãos no fogo.
Mas ela foi fria, foi egoísta. Ela passou por cima de tudo o que eu sentia, passou por cima de tudo o que sabia que eu sofria. E para quê? Para ter uns momentinhos de prazer, com um rapaz do qual ela nem sequer gostava dessa forma. Ela não tinha interesse nele, mas a verdade é que ele tentou e ela deixou. Deixou e não só, a coisa desenvolveu-se. Eles namoram.

Fico feliz por ele, claro que fico. Nunca esperei que ele ficasse sozinho por minha causa, nem pensar. E gosto de saber que ele não está sozinho, gosto de o ver feliz.
Mas não aceito que seja com ela, nestas circunstâncias.

O pior é que ela tem plena consciência do sofrimento que me provoca, mas mesmo assim, não se restringe , não evita cenas à minha frente. Quantas e quantas vezes sou obrigada a vê-los abraçados e aos beijos, e com carícias e todo esse género de coisas, à minha frente.
É tão cruel. Tão cruel.


Sinto como se estivesse a esfregar na minha cara. A única coisa que faço é desviar o olhar, é virar-me para o outro lado, mas dói tanto!

Com tudo isto, era impensável a nossa amizade continuar. Eu não sou falsa, não sou hipócrita, não sou fingida, não vou fazer algo que vá contra o que eu sinto. E a verdade é que nem olhar para a cara dela consigo, quanto mais dirigir-lhe a palavra. Não consigo mesmo. E a verdade é que o meu ódio oscila: ora não é nenhum, ora é imenso.

Ela por vezes tenta falar comigo, mas não lhe respondo, simplesmente porque não sinto que o deseje fazer, simplesmente porque não quero qualquer tipo de proximidade com ela.
Ainda hoje, que fui super feminina para a escola, ela viu-me e saltou, sorriu histericamente e disse que eu estava "Muito bonita!", que tinha-me visto com estas calças novas (de ganga escura super justas e elásticas) e que tinha adorado e tal.
A minha reacção? Nenhuma! Agradeci com um simples e sussurrado "Obrigada!" e segui caminho.

Detesto quando ela age como se nada se passasse, detesto quando ela ignora o que aconteceu e o que eu sinto em relação a isso. Detesto!

Sinto falta dos nossos tempos de amigas, sinto, mas detesto-a, odeio-a, quero-a longe da minha vida.

O que é que eu faço para suportar? :/
 

8 comentários:

Sarah on 10 de novembro de 2010 às 16:14 disse...

jessica realmente pisou na bola, mas nao pense q vc foi a unica! eu passei por isso, e foram minhas 2 melhores amigas na epoca! as 2 me passaram a perna! mas isso só serviu pra me fazer crescer, e aprender, hj tenho uma melhor amiga q é um espetaculo!
ergue a cabeça e enfrente tudo com resignação!

Andreia on 10 de novembro de 2010 às 16:26 disse...

É, tem de ser...
Mas o pior é que eu sinto a falta dela :/ Sinto falta da nossa amizade, das nossas gargalhadas, das nossas conversas... mas por outro lado, odeio-a tanto!

:/

Obrigada Sarah!

Morcegos no Sótão on 15 de novembro de 2010 às 22:08 disse...

Olá!

Antes de mais, pareces-me portuguesa, mas vejo tanto brasileiro à tua volta (inclusivamente esta Jessica) que me pergunto se estás a viver no Brasil. lol Não digo isto por mal, estou só curiosa, porque acho graça a esta variação entre PT-Brasil e PT-Europa. :)

Quanto a esta situação... Aconteceu-me algo semelhante, mas o meu amigo era o rapaz, que foi atrás da rapariga em que eu estava interessada (sou pseudo-gay, 80% de amor às meninas, deixo 20% de chances aos homens). Depois lá namoraram e isto foi há um ano e ainda hoje namoram.

Custou-me HORRORES. Eu estava a viver fora, porque era o meu ano Erasmus e eles eram ambos meus flatmates na residência de estudantes. Durante um mês, mal parei lá. Chegava tardíssimo para apanhar toda a gente já a dormir, evitava as áreas comuns em horários normais (horas de refeições, portanto) e saía sempre em horários esquisitos, antes ou depois de as pessoas saírem. Fora a quantidade de vezes que dormi fora só para não ter de me sentir tão próxima daquele par.

Com o passar do tempo, fui ficando melhor. Arranjei amigos novos, amigos diferentes. Fui-me entretendo como podia. Até que aquela dor e despeito passaram e tudo me ficou indiferente. Nunca a culpei a ela (afinal de contas, ela nem sabia do meu interesse e mesmo que soubesse, ninguém é obrigado a gostar de ninguém), mas com ele não falei durante imenso tempo até que a indiferença me permitiu voltar a ser bem-educada e a fazer conversa da treta.

"If it still hurts, you still care."

Se te deixa melhor, não vai doer para sempre, porque eventualmente a verdade de que há mais e melhor para ti vai ser algo em que de facto acreditas, em vez de apenas teres esperança nisso.

MJNuts

Andreia on 15 de novembro de 2010 às 22:34 disse...

Alô, boa noite!

Sim, eu sou portuguesa, e vivo em Portugal, mas a verdade é que tenho mais leitores brasileiros do que portugueses. Só daí dá para ver a diferença de mentalidades ;)

E a Jessica é que veio do la do Brasil há uns 2 anos... :P

ooh... eu entendo perfeitamente o que me contaste, até porque faço o mesmo. Evito frequentar os mesmos sítios que eles, é horrível mesmo.

Eu também não o culpo a ele, até porque além dele gostar de raparigas fisicamente raparigas (ainda não é o meu caso), ele não sabia que eu gostava tanto dele...
Agora ela, ela tem toda a culpa. E custa-me a crer na cara-de-lata que ela tem de achar que a nossa amizade pode continuar, quer dizer. Nem consigo olhar para a cara dela!! D:

Mas pronto, eu sei que as coisas vão melhorar. E a começar pelo dia em que ele vai deixar de ser importante para mim... e isso não há-de demorar muito mais, acredito.

Obrigada pela visita e pelo comentário!
Volta mais vezes :)
****

Dina Barbosa on 16 de novembro de 2010 às 02:36 disse...

Quero deixar um abraço às duas (sim, eu conheço ambas)e fiquei muito contente de vos ver partilhar experiências de vida. Não haja dúvida de que a internet torna o mundo pequeno.

Abraço grande!**

Andreia on 16 de novembro de 2010 às 11:29 disse...

Dina! :)
Realmente, que engraçado! :P

Obrigada ****

Morcegos no Sótão on 16 de novembro de 2010 às 14:53 disse...

Olha a Dina por aqui, que fofo! lol

Andreia, vou passar a visitar o teu blog, sim. :) Se por acaso precisares de alguém com quem falar, podes contar comigo. A transsexualidade é, para mim, A causa.

Boa sorte e muita coragem para tudo.

MJNuts

Andreia on 16 de novembro de 2010 às 19:21 disse...

Oh, obrigada!

E ficas a saber também que eu não estou disponível só para falar, mas também estou para ouvir se precisares ;)

*****

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Sou uma Rapariga Transexual, de 17 anos, numa luta pela sua identidade. Sou sensível, afectuosa, desprotegida, mas lutadora. A minha vida é feita de sonhos e esperanças, mas quero acreditar que um dia vou poder viver como qualquer outra pessoa. Quero acreditar que daqui por pouco tempo serei capaz de ME ser, por inteiro!

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