sábado, 6 de novembro de 2010

Mulher a Full-time ou Ocasionalmente (+ minha 1ª saída oficial a público enquanto mulher)

Nascemos com um corpo masculino e com um cérebro feminino. Apesar da feminilidade que possuímos, somos desde crianças instruídas a vestir e a comportar enquanto membros do sexo masculino, tendo em conta o nosso corpo e a forma como toda a gente nos conhece.

Quando iniciamos a transição de género, fica a pergunta:
- Ir vivendo ocasionalmente enquanto mulher na sociedade, ou viver a full-time?
No início do tratamento, parece-me óbvio que é muito imprudente querer-se ser socialmente mulher a full-time. A principal razão é porque o corpo ainda não está estruturado de forma feminina, e corre-se o risco de se ser vista pelos outros enquanto travesti, e não como mulher.

À medida que o tratamento vai tendo efeito e o corpo vai ganhando formas, e em que nos vamos finalmente libertando de um passado vivido de forma masculina, vai havendo uma progressiva inserção da pessoa na comunidade feminina.
Primeiro começa por sair à rua com roupas um pouco mais femininas; depois começa a experimentar pintar os olhos e usar maquilhagem em público; o corpo vai-se formando, toda uma personalidade vem ao de cima, e aos poucos a pessoa vai-se ambientando, até que com o corpo finalmente formado, a pessoa passa a viver em sociedade enquanto mulher, mas a full-time, ou seja, largando-se da sua vivência forçada enquanto "homem", e vivendo finalmente enquanto ela mesma.

A minha primeira saída oficial a público:
Hoje saí, pela primeira vez de forma oficial, enquanto mulher. Já me tinha vestido de forma mais feminina, até mesmo quando vou às consultas e/ou coisas do género, mas a verdade é que sempre tentei disfarçar, sempre tentei não ser demasiado feminina, com o medo de não passar despercebida, pelas piores razões.

Mas hoje não. Hoje estive no Porto e mais uma vez fomos ao Mar Shopping passear, ver lojas, e acompanhar uma das minha tias que precisava de comprar dois pares de calças.
Desta vez não me submeti aos meus receios. Vesti-me de forma completamente feminina, até base meti para disfarçar um pouco a acne, e fui. Comigo estava a minha mãe, irmã mais novita, primos e as duas tias, que me disseram para não me preocupar com os outros, e que elas estariam lá para o caso de acontecer alguma coisa.

Devo confessar que à chegada ao Shopping o nervosismo me apertou, até porque era sábado à tarde, era hora de ponta. Mas respirei fundo, enchi-me de coragem e confiança, e aí fui eu.
Foi uma das melhores coisas que poderia ter feito, contribuiu positivamente para a minha auto-confiança. Embora não tivesse apagado os meus receios e complexos, contra os quais continuo a lutar diariamente, ajudou-me a ver a minha situação de forma mais positiva.

Posso dizer que ninguém reparou em mim, se é que entendem o que quero dizer. Ninguém olhou para mim com ar duvidoso, ninguém me olhou com ar de reprovação, ninguém desconfiou que eu não fosse uma rapariga biológica. Isto espantou-me, não estava à espera de "passar" tão bem, até porque ainda nem comecei o tratamento com os Estrogénios, mas a verdade é que foi mesmo perfeito. Algumas pessoas olhavam para mim, mas de forma completamente natural, como todos nós olhamos para as outras pessoas quando vão na rua, mas ninguém me olhou com desconfiança.

Foi muito bom! Foi a minha primeira saída oficial enquanto mulher, foi o meu primeiro grande teste, e fiquei aprovada.
Mesmo a minha mãe, que referiu uma fala da minha médica "Isto (a transformação e a relação dos familiares e das pessoas em geral com a Andreia) tem de ir sendo feito aos poucos", me disse que era tudo insegurança minha. Disse-me que não tinha que me preocupar porque mesmo quando saio à rua com roupa masculina, muitas pessoas me tratam por "menina", e que ninguém ia reparar.

Pronto, foi uma boa experiência, uma óptima experiência.
      

1 comentários:

Sarah on 8 de novembro de 2010 às 10:56 disse...

aos poucos e discretamente é sempre a melhor estrategia, chegará um dia em q vc mesma sentira confiança para seguir normal e como andreia!
bjinhus e otima semana

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Sou uma Rapariga Transexual, de 17 anos, numa luta pela sua identidade. Sou sensível, afectuosa, desprotegida, mas lutadora. A minha vida é feita de sonhos e esperanças, mas quero acreditar que um dia vou poder viver como qualquer outra pessoa. Quero acreditar que daqui por pouco tempo serei capaz de ME ser, por inteiro!

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