Diário 4

É com bastante tristeza que vos escrevo hoje.
Um pouco mais leve, mais aliviada, afinal passou-se um dia inteiro, o que acabou por suavizar a minha revolta.
Vou-vos contar:

Ontem (Domingo), estive o dia todo a trabalhar em coisas para a escola, para entregar hoje (5 desenhos à vista completos em A3, de uma mulherzinha, para a disciplina de Desenho; e uma síntese completa da matéria dada nas últimas aulas a Filosofia, para entregar).
Não me perguntem porquê, mas ontem passei o dia todo com a sensação de que hoje o dia não iria correr bem. "Amanhã vai ser um daqueles dias em que, definitivamente, eu devia ficar em casa".
Pois bem, tal dito, tal feito.

DEFINITIVAMENTE, NÃO DEVIA TER SAÍDO DE CASA HOJE!!

Tudo começou com a primeira aula: Filosofia.
Supostamente o trabalhito era para entregar à prof, e ela iria escolher hoje duas pessoas para apresentar as suas sínteses.
Pois, já ontem eu disse a umas 5 pessoas que "De certeza que a sôra me vai escolher a mim!" -  ninguém acreditou.
Hoje de manhã, antes da aula, disse a umas quantas: "A sôra vai-me escolher, tenho certeza!" - ninguém quis acreditar nas minhas visões pessimistas.

Pois bem, as sínteses não foram para entregar, eram para nos orientarmos.
E adivinhem, quem foi a maravilhosa pessoa que o raio da mulher escolheu para ir para o quadro apresentar a síntese à turma????
RESPOSTA: EEEEEEUUUU!!!

Não é maravilhoso??

Com uma turma de 23 alunos, e ela tinha de me escolher precisamente a mim!! Uma probabilidade de 1 para 23, e foi em cheio!! Que porra de sorte!

Pois, eu não estava preparada, a coisa correu mal (talvez não tão mal assim), a prof não valorizou nada, bem pelo contrário. Senti-me derrotada, humilhada. Foi horrível, um episódio para esquecer.


A aula seguinte foi Desenho. Também tive a sensação de que algo iria correr mal pró meu lado.
Pois bem, o professor também me escolheu a mim para ir desenhar na frente da sala, no placar em tamanho gigante, durante a aula inteira.
Gaita, será que os profs combinaram para me enfernizar a vida?
Enfim, enfim!


Depois do almoço, para passar o tempo, fui com 6 amigas (Salomé, Cátia, Ísis, Chris, Ana e Jéssica)(1) e o António(2) para um jardim lá perto da entrada da escola, por onde costuma andar o pessoal.
Estivemos por lá uns minutos, super divertidas, todas malucas e tal, às gargalhadas que nem doidas. Foi muito bom.

Entretanto, passam duas raparigas pouco mais ao nosso lado, à minha direita, muito sossegadas. Não sei porquê, mas quando elas iam a passar, tive um "flash" e automaticamente virei a cara para o outro lado (sendo que elas não me viram a cara).
Essas raparigas vinham de um grupinho que estava lá mais atrás, para o qual nós estávamos de costas viradas. Era um grupo maioritariamente formado por raparigas, apenas com 3 rapazitos parvos e sem-noção.

Uns minutos depois, heis que elas regressam, agora em sentido contrário, de frente para nós.
Eu, com a minha mania-da-perseguição, achei estranho.

Elas passaram e foram ter com o grupinho delas, e nós entretanto ficámos mais caladas.
Heis que de repente, sinto alguém aproximar-se, por trás de mim, vindo da minha direita.
Era uma rapariga loira, baixa, com uns grandes óculos-de-sol amarelos, com ar de pêga.

Tocou-me de leve nas costas, e mal me deu tempo de virar, e só ouvi uma voz ridícula:

- "OOOlha, desculpa mas, tu és um rapaz, certoooo?"

Bem, caiu-me tudo em cima.
Fiquei completamente sem reacção. Aliás, fiquei eu e todas as minhas amigas, apesar de elas terem demonstrado mais depressa uma revolta imensa.
A situação foi tããão má, mas tão má, que nos momentos seguintes eu não fui capaz de esconder aquilo que sentia. E acreditem, eu nunca demonstro as minhas fraquezas!

Estava eu ali, frágil e desprotegida, completamente abalada, atropelada por aquilo que era uma das situações que deveriam ser evitadas.

A gaja voltou para junto da "manada", e as minhas amigas só diziam, na tentativa falhada de me consolar: "Calma, não ligues a estar merdas. Isto são pitas que não têm mais nada para fazer e só querem arranjar problemas!".

A Cátia, que já sabe do meu segredo há bastante tempo, e é a minha fiel companheira, ficou  mais revoltada, levantou-se e ainda quis ir tirar satisfações, mas não a deixámos ir.
Nos minutos que se seguiram, ela lá fez umas figuras na tentativa de me animar e gozar com as galdérias histéricas do outro grupo, algo que não resultou.
Aliás, as bestas, cheias de graça, ainda começaram foi a gozar com ela, a imitá-la e a rir de tudo aquilo que se estava a passar.

Ao que parece, são umas raparigas da minha escola que têm como hobby de eleição arranjar problemas, armar-se em boas e fantásticas, como se a estupidez e a idiotice fossem virtudes louváveis. Isto para não falar da leviandade, falta de consciência, e um pedacinho de auto-oferecimento a tudo o que se parece com um homem.

Enfim, passei o resto da tarde super em baixo. Não me consegui concentrar na porcaria da aula de Geometria, não consegui animar-me.
Sentia-me violentada, sentia-me gozada, sentia-me humilhada.


Porra, porque é que estas coisas têm de acontecer?
Será que as pessoas não tomam consciência do que são e não se colocam de uma vez por todas nos seus devidos lugares?
Qual é o proveito que se tira de gozar, de prejudicar os outros???
É uma idiotice, é uma estupidez de todo o tamanho!!

Quero é que aquela gente se lixe,  ou mesmo que leve com um tijolo no meio da testa para ver se é menos um bando de palermas a habitar o Planeta.

Desculpem o agressividade, mas estou revoltada!!
Não imaginam o que eu quanto eu desejei ter coragem para dar um par de tabefes àquela gente!

Raios!

Esclarecimentos:

(1) 6 amigas:
- Salomé: é uma rapariga fantástica, com valores, apesar de ter uma vida também algo complicada. É baixinha e super bonita, e é tão, mas tãããão cómica!! Sem exageros, eu não consigo ficar 5 minutos junto dela sem me rir. A menos que ela esteja de mau humor ou assim.
Ela sabe do meu segredo desde o ano passado, soube na mesma altura que a Cátia.
Ela preocupa-se comigo, e valoriza-me bastante, e elogia-me, e tenta-me mostrar que sou uma pessoa "fantástica", e preocupa-se muito em me ajudar e me defender quando estou em apuros.

- Cátia: é a minha fiel companheira. É a minha mana do coração! Se há alguém que conheça a Andreia, que se dê com ela, e que a acompanha na apreciação dos rapazinhos, pois é a Cátia.
É uma doida varrida, um pouco histérica, mas uma pessoa com uma personalidade, com uma forma de ser completamente hilariante!!
Foi ela que sempre me acompanhou, desde que iniciei esta longa caminhada, e ela que se mantém firme ao meu lado, para me apoiar quando necessito.
Partilhamos emoções, risos, pensamentos, desejos, gostos, e eu sou a sua eterna e fiel conselheira e confidente. (falei dela aqui, nos esclarecimentos)

- Ísis: é uma rapariga que, tal como eu notei das primeiras vezes que falei com ela, tem uma auto-estima em baixo, tem falta de auto-confiança, embora se tente mostrar bastante segura. Talvez por eu sentir que ela era tão parecida comigo, aproximei-me e acabámos por nos tornar amigas bastante próximas.
Ela, eu e a Cátia formamos uma espécie de trio-maravilha, e damo-nos muito bem juntas, e estamos sempre prontas para a palhaçada.
Hoje contei-lhe o meu segredo, tal como falei no post anterior. :) 

(falei dela aqui, nos esclarecimentos)

- Chris: é uma boa rapariga, e gosta de mim e parte-se a rir das minhas piadas e tal, mas sinceramente, não é alguém com quem eu tenha uma relação muito próxima. Não confio muito nela, é uma rapariga muito cuscovilheira. Tudo o que é assunto polémico, ela espalha. Não é má rapariga, mas enfim... deixa a desejar.

- Ana: é a melhor amiga da Salomé, e é minha companheira de mesa. Conheço-a desde a escola primária, andámos juntas excepto do 7º ao 9º anos. Ela não me julga nem nada, nem faz comentários despropositados. É super minha amiga, e também me dá imenso valor, e tenta mostrar-me que sou uma óptima pessoa. Valoriza imenso o que eu faço, e faz-me sentir muito bem!

- Jéssica: adoro, adoro, adoro! É uma miúda fantástica, cheia de valores, é uma pessoa maravilhosa! Ela também me dá muito valor, e eu damo-nos bastante bem. Temos uma relação bastante próxima, e como já disse, estou disposta a contar-lhe a qualquer momento. :) (falei dela aqui, nos esclarecimentos)

(2) António: É um rapaz da minha turma, um palerma, que já foi meu colega de mesa e tal, e portanto, conhecemo-nos e começámos a dar-nos minimamente. Ainda não sabe de nada, mas também não irá entender.