quinta-feira, 1 de abril de 2010

Não consigo dormir...

Não consigo dormir com todos estes tormentos.

Tentei, juro que tentei, mas não consigo.
Só consigo chorar. Não tenho noção de há quanto tempo choro.

Não consigo acreditar no monstro horrível que me tornei.
Não consigo acreditar que as pessoas que podem, não façam nada para me ajudar, para me salvar.

Custa muito marcarem uma porcaria de uma consulta de endocrinologia de uma vez por todas? É preciso esperar tanto? Para quê?
Ou melhor, era assim tão difícil terem-me dado os bloqueadores logo ao início, ao mínimo sinal de transexualidade em mim?

Porra!! Não é justo! Não é justo que eu tenha de sentir o que sinto, não é justo que eu seja obrigada a passar por isto!

Eu sou um monstro!! Sou, sou, e palavras reconfortantes não servem de nada, são em vão!!
Não adianta dizerem-me que eu vou ter sucesso, não adianta dizerem-me que vou ser uma mulher bonita, não adianta dizerem-me que é uma questão de tempo! Muito menos isso!

Há pessoas na minha situação que são tão fortes, que aguentam tanto. Não sei como conseguem, mas eu não consigo. Não consigo.

Eu só queria poder ter sido uma criança feliz, uma menina feliz. Eu só queria ser uma mulher feliz.

Não dá pra mim.

 

9 comentários:

Pangéia on 2 de abril de 2010 às 13:54 disse...

Eu entendo esse seu sofrimento, rapariga, vivi isso praticamente, só que de forma um pouco oposta. Por não ter tido a produção normal de testosterona em minhas glândulas endócrinas, muita gente que não me conhecia me via como criancinha pequena; quando dizia que não, contava minha idade, vinham me perguntar se eu já tinha namorado - me confundiam com mulher - e quando respondia "namorada, sou homem" um mundo de gente se ria, ficava indagando-me se não tomava anti-concepcional ...
O povo foi cruel comigo, bem pouca gente se toca que a aparência física é determinada por fatores genéticos, não por medicamentos - embora os medicamentos possam consertar muita coisa errada, reconheço - era-me sufocante também ver que, quando as pessoas se percebiam que eu realmente gostava de mulher, viam querer processar as tais namoradas por pedofilia, sendo que já era adulto. Quando mostrava meus documentos para comprovar a idade, diziam: "Benzinho, falsificação de documentos é crime, seu papai pode ser preso se alguém te denunciar". Em outras palavras, até mesmo quando já tinha passado dos 21, 22 anos, me tomavam por um garotinho de 9 ou 10. Me irritava isso, era doloroso ser barrado no cinema aos 20 anos porque o filme era proibido para menores de 14! (?)
A coisa só melhorou - melhorou entre aspas, a melhora foi mínima, ainda hoje tem gente que duvida que eu seja homem adulto e macho, mesmo com essa barba neandertalista, à lá urso - depois que uma porra de um exame genético - por aqui chamado de cariótipo - conprovou que tinha genética de um homem adulto que apenas sofria de um distúrbio que acarretava ausência de hormônios. Depois disso, comecei um tratamento; porém, ainda hoje é difícil das pessoas acreditarem que sou adulto, me sinto humilhado, castrado e capado (com o perdão por esses dois últimos vocábulos) com o modo como sou visto pelas demais pessoas.
Em suma, meu sofrimento pode não ser o mesmo que o seu, mas também sofro por razões endócrinas, sou um erro genético, assim como você. Você não está sozinha nessa, amiga.

Andreia on 2 de abril de 2010 às 15:06 disse...

Que situação estranha, hein?
E ter de viver isso durante toda sua existência, foi ruim mesmo.
Entendo seu sofrimento.

Só não quero ser visivelmente monstruosa por causa dos meus ombros largos, algo que nunca mudará. Só queria que meu corpo encontrasse um equilíbrio.

Estou esperando e desesperando para começar o tratamento hormonal, que segundo a médica, iria começar em Fevereiro.
A consulta que estou esperando desde então ainda não foi nem marcada. Se eu não receber notícias em breve, vou avançar para o uso de Bloqueadores da testosterona, por conta própria. Chega!

Pangéia on 2 de abril de 2010 às 18:15 disse...

É, minha situação naturalmente andrógina foi bem estranha mesmo. Até meus familiares - que me conheciam desde o nascimento - me estranhavam às vezes!
Boa sorte com o tratamento, espero que marquem mesmo sua consulta. Pessoalmente, somos parecidos nesse ponto de vista, odiamos ser "enrolados" (não somos presunto e mozzarela para sermos enrolados, oras!)

Andreia on 2 de abril de 2010 às 18:37 disse...

Certo.
O pior é que tem a cara-de-pau de dizer para termos calma. Como é que é possível ter calma numa situação destas, quando eu estou a ver o meu corpo a evoluir da forma errada?
E ainda por cima, toda esta situação depende dessa gente. Se eles marcarem logo a consulta e o tratamento, a coisa resolve-se --'

Pangéia on 3 de abril de 2010 às 21:24 disse...

Quem está lhe pedindo para ter calma? Eu não, se foi isso que deu a parecer, então ou você está com um erro de interpretação, ou fui eu que não soube me expressar direito. Nem eu sou tão calmo assim - sou ranzinza, estourado e rabugento na maior parte do tempo ...
Eu disse que espero que marquem sua consulta logo, pois somos parecidos em um ponto, não gostamos de ser enrolados! Ou seja, apenas confirmei que não suporto ser enrolado por uma corja de mequetrefes - o que, pelo visto, por aí tem tanto quanto aqui.

Amplexos sinfônicos!

Andreia on 3 de abril de 2010 às 21:40 disse...

Não, meu caro amigo. Eu estava a dizer que os médicos, e a minha psiquiatra, e umas quantas pessoas, dizem para nós termos calma.

É difícil, nestas circunstâncias ;)

Pangéia on 4 de abril de 2010 às 19:03 disse...

Ah!, sim! Agora entendi! Só peço calma em uma coisa, com as idéias suicidas, eu tive várias, se não concretizei foi por pura falta de sorte - ou será que é por ter sorte?
Não que não me aceitasse, que não estivesse satisfeito com meu corpo; nunca tive problemas em me aceitar como sou, a verdadeira razão por ter procurado auxílio médico foi apenas a vontade de ser pai, precisava vencer a esterilidade natural de minhas glândulas endócrinas primeiro. O que me deixava down, pra baixo, era esse maldito preconceito, isso sim dava vontade de tirar minha prórpia vida ...
Espero que as mesmas tentativas não sejam cometidas por você, é uma barra que me foi díficil agüentar, superar, principalmente porque não tinha amigos. Fiz análise psicológica a vida inteira praticamente.

Andreia on 4 de abril de 2010 às 19:42 disse...

Meu amigo!

A altura em que eu tive muitos, muitos mesmo, pensamentos suicidas, nunca concretizei por medo, e porque não imaginava como seria a vida da minha irmã mais nova (agora tem 7 anos) sem mim.

Agora, só raramente, quando tenho aqueles momentos super em baixo, é que poderá (ou não) passar algo pela minha cabeça, mas já não é muito habitual.

Tenho muita vontade de me construir, de me transformar, e viver a vida!

Pangéia on 8 de abril de 2010 às 22:34 disse...

Espero que não passe nada do gênero em sua cabeça - não novamente!
Chega de suicídio, a vida é feita para ser vivida - Filosofia barata dos psicólogos, mas funciona, por increça que parível! (O correto é "por incrível que pareça", mas tem um roqueiro no Brasil que faz essa espécie de inversão, na brincadeira; aí fica "por increça que parível"! Tem gente que só presta par nos fazer rir mesmo ...)

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Sou uma Rapariga Transexual, de 17 anos, numa luta pela sua identidade. Sou sensível, afectuosa, desprotegida, mas lutadora. A minha vida é feita de sonhos e esperanças, mas quero acreditar que um dia vou poder viver como qualquer outra pessoa. Quero acreditar que daqui por pouco tempo serei capaz de ME ser, por inteiro!

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