Ontem, 5ª feira dia 9 de Junho, foi o meu último dia de aulas, do 12º ano, do secundário.
Não tenho palavras para transmitir aquilo que senti quando saí, forte e aliviada.
Depois da última aula fui me despedir da pessoa que mais gosto dentro daquela escola, a senhora da biblioteca, que por acaso é esposa de um colega de trabalho da minha mãe, que me conhece desde pequena. Ambos me tratam com o maior carinho possível.
Depois de me despedir, peguei nas minhas coisas e atravessei a escola, sozinha. Vi um grupinho grande de colegas de turma, algumas das quais minhas supostas amigas (Cátia, Joana, Jéssica) histéricas a despedir-se de outras pessoas.
Passei o portão da escola com o sentimento de vitória de alguém que passou os últimos 3 anos a lutar para se definir, a lutar para se fazer nascer, a lutar para esconder, a lutar para se proteger.
Além de todos os anos passados em que sofri na escola, estes 3 últimos foram particularmente importantes.
Descobri-me, defini-me enquanto mulher. Lutei contra os meus complexos, lutei contra a minha vontade de morrer, lutei contra tudo o que me empurrava para trás.
Lutei contra o preconceito, lutei contra a discriminação, lutei contra todas as humilhações.
Contra os que me apelidavam com palavras feias, contra os que me humilhavam, contra os que se achavam superiores a mim.
Lutei porque sabia que um dia tudo isso acabava. Acabou ontem.
Senti-me a mais vitoriosa das lutadoras.
Acho que ainda não caí em mim, talvez pela imensa carga de trabalho que tive nesta última semana. Agora preciso de descanso, mas talvez daqui por umas semanas recorde e chore por tanta coisa, tanta gente que deixo para trás, algumas das quais gostaria de manter.
Mas posso dizer que a única e grande mágoa que guardo é relacionada com o António. Se ele não se tivesse reaproximado de mim nestas últimas 2 ou 3 semanas, eu estaria a 100% feliz. Mas ele reaproximou-se e voltou a tirar um pedaço de mim, deixando-me aqui, com aquele bocadinho de esperança e desejo.
Não sei se valha a pena ir atrás dele; não sei se ele virá atrás de mim. Quero a amizade dele.
A partir de agora sou só eu. Eu, Andreia, mulher, independente e dona do meu nariz, tomando as rédeas da minha vida.
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sexta-feira, 10 de junho de 2011
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6 comentários:
Estou orgulhosa de ti :) Beijinho!*
:) *
Obrigada por te ter conhecido! És uma menina e mulher cheia de garra e determinação! Lutarei contigo! Beijinhos grandes, Liliana.
Oh, Liliana! :)
Também fiquei feliz por te ter conhecido, precisamos de gente com a disponibilidade para o diálogo e para a aprendizagem que tu tens ^^
Beijinhos*
Olá,Andreia.
Encontrar o teu blog,foi maravilhoso para mim. Li todos os teus depoimentos e senti-me tu mesma.Concluí recentemente meus testes pelo Gendercare e ficou confirmada a minha transsexualidade contra a qual lutei durante a vida inteira, para não fazer meus pais sofrerem e mesmo por conviver em um meio machista e preconceituoso.Tentando provar a mim mesma uma heterosexualidade que nunca tive.Formei uma família e mesmo com esposa continuei sendo mulher e foi tudo muito difícil. Tenho 71 anos e a fêmea que sou está gritando dentro de mim.Felizmente tenho saúde perfeita e posso dar início a minha transição,mas o custo é muito alto, pois preciso prioritariamente de uma feminização facial bem feita, porque tenho um aspecto viril que me dá desgosto.Gostaria de me corresponder contigo, se não te incomodares. Estou concluindo o meu curso de Pedagogia na UFRPE e estou às voltas com problemas seríssimos em relação à minha sobrevivência econômica que será prejudicada pela minha transição.Anotei teu gmail e vou te escrever. Bjos. Te adoro, por seres tão guerreira.
Rafaela
Olá Rafaela!
Antes de mais, obrigada pelas tuas palavras e por confiares :)
A tua história tocou-me, e fiquei bastante curiosa em relação ao teu caso.
Vou já responder ao teu e-mail!
Bjinhos e força *
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